segunda-feira, 9 de março de 2015

Só quero que acabe: a dor de quem sofre assédio moral


Por Kalyne Lima

Há muito se ouve falar de assédio sexual.Essa violência abala a vida não só da vítima, mas de sua família e amigos. Mas existe outro tipo de assédio que é recorrente nas relações de poder. Trata-se do assédio moral, do patrão contra o funcionário, do professor contra o aluno, enfim, do que se coloca em situação de superioridade contra o vulnerável.
Em alguns casos, o dano pelo assédio moral bloqueia a vítima, desestruturando-a emocionalmente, chegando a traumatizá-la e até convencê-la a se anular em seus ideais e convicções, e é um mal que deixa sequelas terríveis.
Para o profissional, deixar-se humilhar é aceitar transformar-se num ser sem valor para a sociedade; para o estudante, é engessar o seu potencial e impedir o desenvolvimento pleno de suas habilidades, entregando-se ao tão popular“só quero que esse curso acabe”.

É uma linha tênue, a sutileza do assédio moral dificulta provas, mas inquieta muitos pesquisadores, dado o grande número de trabalhos acadêmicos acerca do tema.
E o assédio moral não se dá apenas no campo individual.O Sindicato dos Empregados e Agentes Autônomos do Comércio de São José dos Campos publicou um artigo em sua página sobre o assédio a grupos.O estímulo à rivalidade, o tratamento diferenciado dos funcionários, concedendo vantagens a um grupo específico e excluindo outro estaria caracterizado como assédio.
Já no campo acadêmico, o professor Henrique Carivaldo de Miranda Neto, autor da dissertação de mestrado Assédio Moral: Constrangimento e humilhação em Instituições de Ensino Superior, afirma que o assédio se dá através de ameaças, acusação sem provas, comentários depreciativos, rebaixamento da capacidade cognitiva dos alunos e promoção de privilégios a alguns e não a todos, como benefícios de frequência e correções.
O objetivo do assediador seria promover a desistência do funcionário ou do estudante. Nas relações profissionais, o assédio é exposto na degradação deliberada das condições de trabalho.Já na área da educação, a partir de ameaças sobre dificultar a conclusão dos estudos do aluno, recusar-se à correção de trabalhos, tornar os conteúdos mais difíceis que o necessário e criar estratégias de ensino com pedagogia duvidosa.
Também é recorrente nas relações de trabalho, a humilhação repetitiva e de longa duração, enquanto que na relação acadêmica, a recusa em esclarecer uma dúvida alegando que a explicação já foi dada ou que a pergunta é desnecessária.
         O fato é que esse mal atinge muita gente no Brasil.O local de trabalho que tanto dignifica o cidadão, assim como as escolas e universidades o preparam para um mundo adulto e profissional, são espaços que se tornam eventualmente desvirtuados pela conduta de péssimos profissionais. Nas relações sociais, devemos prezar pelo crescimento do outro, para que, dessa forma, construamos coletivamente um mundo melhor. Degradar, subjugar, ameaçar, humilhar e intimidar não condiz com as práticas de um cidadão consciente do seu papel no mundo.

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